Ricardo Lopes
Fé inabalável só é a que pode encarar a razão faze a faze em todas as épocas da humanidade.
Textos
Vestido rosa com bolinhas brancas
Naquela noite fria, longa e triste tudo que a menina queria era poder estar bem longe dali.  A garrafa de bebida sobre a pequena mesa no centro da sala e o pouco do liquido pardo que ainda restava no fundo era o reflexo do olhos vermelhos e frios daquele homem que ela nem mais conhecia. Quando a mão dele que parecia pesar mais que a panela de pressão da mãe desceu bruscamente sobre a pequena mesa de madeira que estava no centro da sala fez com que o estrondo fosse capaz de derrubar neve do telhado e despertar o pequeno esquilo que estava descansando para o novo dia que estava prestes a começar, ela conseguia ver e esquilo por detrás do vidro sujo e embaçado da cabana, apesar da pequenez do bichinho, naquele momento lhe trouxe um pouco de esperança, afinal havia outro ser vivo sem ser ela naquele estranho lugar. Porque o "monstro" que ali estava e que era seu tio, de vida não lhe restava mais nada, o seu corpo grande e forte parecia ser comandado por choques elétricos que o fazia gemer a todo momento e sussurrava palavras incapazes de ser entendidas. O que era até um alivio para a menina.
Ela se perguntava porque fora arrastada até ali, e por que ninguém ainda foi busca-la. O seu cérebro tentava de todas as maneiras faze-lá esquecer ou pelo menos bloquear tudo que ela tinha presenciado na sua casa há algumas horas atrás, mas o sangue que já estava impregnado em seu lindo vestido rosa com bolinhas brancas não a deixava esquecer. Na sua fresca memoria ela via o rosto assustado da mãe correndo pelo corredor com ela no colo e o pai estendido no chão coberto de sangue a fez desmaiar. Apenas alguns minutos foi suficiente para que ela abrisse os olhos novamente, aquela garotinha com apenas oito anos foi capaz de sentir o despertar da necessidade de viver e para isso teria que fugir. Ela olhou para o que sobrou do tio, que estava com os enormes pés calçado por sapatões que pareciam pneus de tratores igual aos homens que limpavam as ruas cheias de neves da sua casa. "Sua casa"! ela tinha que voltar lá para procurar a mamãe e o papai, mas novamente olhou para o vestido e o sangue lhe trouxe a imagem da mãe correndo com ela no colo e o "monstro" atrás com uma enorme faca.
Quando o tio tirou os pés de cima da mesa e bateu firme no chão de madeira para poder se levantar, a sua tentativa de se erguer foi desastrosa um passo para cima e dois para o chão, ele caiu de volta na cadeira, que virou para trás e o derrubou, por um instante pensou que podia ser o momento de fugir. Mas ele se levantou todo torto foi até ela e com o indicador sujo de sangue apontou para seu pequeno rosto e disse muitas coisa da quais ela nada entendeu, a única coisa em que foi capaz de pensar era que ela estava correndo muito perigo e tinha que fugir urgentemente. Ele sentou novamente só que agora no sofá levou com o ele o liquido pardo que estava na garrafa e numa só golada secou a garrafa que depois maldosamente arremessou diretamente em sua direção, mas sua pontaria estava proporcional a sua coordenação então foi um alivio para ela. Alguns minutos depois aquele homenzarrão estava inerte deitado ali no sofá. Agora era a hora. – Pensou ela. Levantou-se devagarinho e com as pontas dos pés se moveu até a porta, ela agradeceu por não estar amarrada abriu a porta. E por alguns instantes parecia fazer parte de alguma pintura a imagem que se abriu aos seus olhos foi de extrema beleza a neve branquinha cobria todo o morro e na sua frente uma enorme lagoa rodeada por pinheiros. Mas sem ver nenhuma casa a sua volta a sensação boa que tinha sentido, desapareceu. E perguntou para onde ir? – Eis que surge o pequeno esquilo bem próximo de seus pés e de repente ele partiu, correu para o lado direito, ela não pensou duas vezes como num conto infantil que o pai lia para ela, imaginou estar sendo salva por aquele pequeno animal e o seguiu. Apesar de não estar mas vendo o esquilo ela continuo por aquele caminho e depois de um bom tempo andando ela enxergou fumaça que parece sair do morro. Então ela começou a subir e encontrou uma cabana, tinha um cachorro na porta que logo a avistou, e começou a latir incessantemente até que uma senhora apareceu na porta, quando ela ameaçou correr em direção da senhora para receber um possível abraço, ela para como quem não acredita no que está vendo e fica petrificada o seu tio estava em pé atrás da senhora com um enorme sorriso no rosto, acompanhado com a garrafa cheia daquela bebida parda. De repente a senhora e o "monstro" começaram a dar gargalhadas até pareciam ter encontrado algo que a tempo procuravam, ela virou o corpo para trás e saiu em disparada para o lago onde tinha avistado um barco, ela sobe no barco e se afasta da margem por alguns metros só que o pequeno barco começa a afundar e o belo vestido rosa com bolinha se afunda com ele.
Antonio Ricardo Lopes
Enviado por Antonio Ricardo Lopes em 12/10/2013
Alterado em 13/10/2013
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